quinta-feira, 8 de junho de 2017

Um leonino abraço Nuno Santos!...


A ÉTICA É UMA BATATA

«Deve o presidente do Sporting fazer encontros informais com uma dezena e meia de jornalistas? Não. Dois ou três juntos ou à vez, por mais trabalhoso que seja, com certeza, mas, encontros assim não são nem uma boa ideia, nem devem demorar tanto tempo porque a mensagem se dilui e, verdadeiramente, de essencial sobra pouco. 

Mas, sejamos rigorosos, tudo isso são detalhes – ou até opiniões diferentes, admito – quando nos confrontamos com o essencial. E o essencial é que um grupo de pessoas aceitou de livre vontade, conhecendo as regras, sentar-se numa sala com o presidente dum clube de futebol numa conversa aberta, ou seja sem agenda, mas privada. Não havia declarações, não era uma entrevista e ninguém foi para lá obrigado. Todos, ou cada um por si, poderiam ter recusado entrar e, mais, poderiam ter escrito por antecipação nos seus órgãos de informação que, mesmo sem saberem os contornos exactos, temendo tratar se de uma acção de propaganda, de um acto de instrumentalização, não queriam participar. Podia não ser bom jornalismo, mas era legítimo. 

Ora, o que sucedeu a seguir foi um acto miserável. Um acto que envergonha os jornalistas e o jornalismo e que explica porque razão o público dispensa cada vez mais qualquer mediação. Quem ali foi, gravou um encontro privado à socapa e largou-o nas ‘redes socais’ – não sei se directamente, se via ‘blogs do Benfica (?). É alguém que pode ser o que quiser, não pode é ser jornalista. 

Sei que há muitas virgens ofendidas e sportingustas genuinamente descontentes com o tom do presidente do clube. Também não gosto.Detesto, aliás. No meu caso não é de hoje. Seria totalmente irrelevante se Bruno de Carvalho não tivesse, como tem, uma posição institucional. Há um preço a pagar e é ele que o está a pagar. Mas seria curioso que, todos os que têm responsabilidades na sociedade portuguesa, vissem por aí as suas conversas privadas alvo da devassa mais primária. 

Também não se iludam os leitores. Esta prática de os jornalistas se encontrarem com os vários poderes não aconteceu agora pela primeira vez. É recorrente. No desporto, na economia, na política. Costuma ser feita de forma discreta e também costuma ter pessoas que cumprem aquilo que combinam. Um princípio básico. 

É, aliás, uma velha prática que se faz, em sentido amplo, por duas vias. Quando é o jornalista que procura o protagonista, mesmo que o proteja, de certa forma cultiva a sua fonte mas esta sabe o que quer dizer e com quem está a falar ; quando é o contrário será que é exclusivamente a fonte que usa o jornalista ou este e seu órgão de informação também têm um interesse objectivo em terem primeiro uma determinada notícia? Ou uma notícia ‘tout court’. 
Há muitas matizes, o mundo não é a preto e branco. 

A gravação pirata não tem relevância informativa, nem interesse público. Tem impacto publico. É diferente. Não há informação nova, não há indício de crime, prevaricação, manipulação. Há opiniões, posições, desabafos, linguagem de caserna, ‘eu fiz’, ‘eu aconteci’. Verborreia, no meio de muitas coisas que são verdade. Há um estilo, que nem é exactamente novo.


Um defeso (sempre) quente

Em geral as pessoas têm fraca memória e acham que este ano, mais do que outro qualquer, anda aí um grande corrupio com tantas entradas e saídas, seja na nossa Liga (e nos nossos grandes em especial), seja fora de portas, onde, a cada hora que passa – os dias já não são uma medida –, as edições online e os sites especializados, alguns especializados mesmo em especulações, anunciam novas e sensacionais mudanças. Ainda é cedo para tirar conclusões ou fazer contas. Internamente o Benfica é o mais activo nas vendas, entre as já consumadas e as anunciadas, e as compras que, como sempre com Luís Filipe Vieira são em excesso, mesmo fazendo parte do ‘modelo de negócio’. Sporting e Porto ainda estão em fase de arrumação, mais o Porto. E fora foi o Manchester City, logo com dois ‘portugueses’, a abrir as hostilidades. Mas todos os gigantes farão movimentações com grande impacto. Esta época, como nas últimas, há outro dado certo: Jorge Mendes voltará a estar no centro das atenções. A colocação de Pepe no PSG é apenas o primeiro grande negócio da ‘saison’. José Mourinho, por exemplo, precisará dele para fazer do Man. United uma equipa verdadeiramente de topo.

Selecção. 

Cercados pelas polémicas com o presidente do Sporting, ou com os e-mails do Benfica, sobra pouco tempo para o que é realmente importante. Portugal entra em campo amanhã num jogo essencial para chegar ao Mundial da Rússia e, fazendo o que têm que fazer, têm andado bem os jogadores ao colocarem o foco no Mundial, deixando a Taça das Confederações para depois. Se nada de anormal suceder, Portugal ganhará o jogo e é um sério candidato ao troféu seguinte. A equipa tem muitas opções. Tem Ronaldo em forma e muito motivado. 

Futebol feminino. 

O crescimento do futebol feminino em Portugal tem sido sustentado e é bom para a modalidade em geral. A forte presença do Sporting, campeão e vencedor da Taça, num bom espectáculo no Estádio Nacional, mobiliza adeptos no campo e na televisão, tirando o produto de uma área de ‘nicho’ onde vivia. Se Porto e Benfica entrarem em jogo, mais cedo ou mais tarde, não será apenas bom para a modalidade, será também importante para os clubes que captam aqui outro tipo de adepto. A pensar.»
(Nuno Santos, Ângulo Inverso, in Record)


Uma magistral crónica de Nuno Santos! Torna-se para mim complicado juntar no pouco tempo que impus a mim próprio para publicar este postal e necessariamente em poucas palavras, a satisfação que a leitura do pensamento deste grande jornalista me trouxe.

A crónica só pecará por algo extensa, fora do que é habitual, mas o contexto a isso obriga e as minhas críticas reduzem-se a um sincero aplauso, não roubando com mais palavras o merecido protagonismo de alguém com tanto valor que, pelos vistos, não cabe no pequenino e sacana rectângulo que somos!...

Um leonino abraço Nuno Santos!...

Leoninamente,
Até à próxima

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