segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Recuso assomar ao limiar dessa pocilga!...


AUTOCARRO QUE VEIO DO BONFIM

«Não vou arranjar desculpas para a ansiedade que o último jogo do Sporting contra o Vitória de Setúbal causou aos adeptos em Alvalade. O Sporting podia e devia ter sido mais eficaz, a benefício da saúde cardiovascular dos seus sofredores (a vitória só chegou de penálti a dois minutos do fim), mas essa é outra conversa.

O tema desta crónica é apenas este: mentalidade desportiva. E a questão é a seguinte: qual o racional de uma equipa com os pergaminhos do Vitória de Setúbal se apresentar na segunda jornada da Liga, em Alvalade, com uma postura ostensivamente retranqueira, fazer cerca de 30 faltas no jogo e abdicar de qualquer ideia de ataque?

Com isso não ganhou o futebol. Nem o Vitória. O futebol porque, por força desta postura, o jogo acaba por ser entediante, de sentido único e diminuído na sua emoção. O Vitória, espartilhado na sua obsessão de linhas baixas, deixou uma pálida impressão daquilo que legitimamente dele se esperava.

É por estas e por outras que a Liga portuguesa fica distante da inglesa ou da alemã, onde um jogo como este, mesmo entre equipas desniveladas, dificilmente teria lugar. Isto porque no quadro daquilo que se deve entender por boas práticas desportivas, prevalece o conceito de espectáculo, entendido como um esforço comum para o melhor desempenho possível, em benefício de quem assiste e quem paga.

Não é que condutas como o autocarro, o queimar de tempo, as faltas ditas cirúrgicas, as simulações, não existam, mas a sua frequência é muito inferior aos hábitos nacionais e sobretudo há a convicção que são expedientes nocivos para o espectáculo.

Ou seja, aquilo que muitos por cá qualificam de esperteza, outros consideram fraqueza.

Em Portugal joga-se e depois, se possível, vem a nota artística. Nos encontros de futebol em Inglaterra, por exemplo, a nota artística é uma procura permanente, independentemente do resultado.

É preciso perceber que aquela coisa que um comentador mais esclarecido denominou, com propriedade, de "futebol de contenção" e que por estas paragens tem tantos devotados cultores, retira o que este tem de mais excitante: o tempero que faz com que gostemos das coisas.

Futebol sem tempero é como comida de dieta: come-se, mas não deixa saudades!»
(Carlos Barbosa da Cruz, O canto do Morais, in Record)

Julgo e tenho a quase certeza de que não estarei errado, que por razões que, embora muito legitimamente, só ao autor deverão dizer respeito, não foram chamados nesta sua crónica "os bois pelos nomes"!...

Mas todos aqueles que já vêem futebol há muitos anos e conhecem minimamente o porquês de certas coisas, não terão qualquer dificuldade em atirar para cima da região lombar do treinador do Vitória a quase totalidade das culpas da mais sórdida negação do futebol que na sexta-feira foi apresentado aos mais de 42 mil espectadores que pagaram o seu bilhete para estarem em Alvalade e sairem autenticamente ludibriados, roubados, vigarizados! Obviamente que poucos terão dúvidas em saber de onde partiu a desonestidade e todas, mas mesmo todas  e serão muitas, as razões que a sustentam. Carlos Barbosa da Cruz deixou-o subentendido, talvez por respeito ao Sporting Clube de Portugal! E eu, do mesmo modo, fico-me por aqui!...

Recuso assomar ao limiar dessa pocilga!...

Leoninamente,
Até à próxima

2 comentários:

  1. Bom dia. Percebo a revolta contra uma equipa que deturpa o espírito da competição e unicamente joga para o empate, na esperança de pontinho a pontinho conseguir garantir rapidamente a manutenção. Embora desespere quando acontece contra a minha equipa percebo que os outros o façam porque as regras o permitem e eu mesmo pedi e supliquei que a minha equipa o fizesse quando estava de pé nas bancadas do Santiago Bernabéu o ano passado De forma a tentar atenuar a defesa do empate uma solução a adotar poderia ser que num empate a zero golos nenhuma equipe recebesse pontos. Fora incentivos externos isto motivaria as equipes não obrigatória a à jogar bem mas pelo menos a tentar marcar um golo. Um abraço zemariatd

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  2. Mas a culpa será do Vitória ou do estado do futebol português?A diferença de orçamentos é imensa..não podemos censurar por virem jogar com o autocarro.
    Isso de futebol de ataque e de espéctaculo é tudo muito bonito desde que haja qualidade em todas as equipas,como por exemplo em Inglaterra.Em Portugal há 3 clubes a jogar um campeonato totalmente diferente dos outros.
    A centralização dos direitos televisivos, por exemplo, iria atenuar um pouco essas diferenças,mas os "DDT",os Srs "14milhões",o clube do estado apesar da sua "imensa superioridade" não quis.Porque será?
    São os mesmos que não querem sorteio dos árbitros e que andaram a pregar contra o video árbitro por terem mais garantias sem essas medidas.
    Aliás,mesmo com video árbitro já vimos o espera a todas as equipas que forem jogar ao Estádio do Sport Lisboa.Ocultação e manipulação.Resta saber se com a cumplicidade do VAR.Eu começo a acreditar que sim,até no Estádio do Moreirense temos melhor transmissão!
    Foi um regalo ver a transmissão da sport tv em Alvalade,cameras e linhas a tirar todas as duvidas.
    Em comparação com o Estádio do Sport Lisboa é do dia para a noite..ainda o ano passado o Samaris dá um soco no alex telles junto á linha e a unica imagem que mostraram foi do 3 anel e do outro lado.

    SL

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