segunda-feira, 5 de março de 2018

"Não há rapazes maus"!...



A MENSAGEM DE GELSON

«O que implicam as decisões que tomamos? De que forma medimos as consequências? O que valorizamos na hora de tomar uma decisão? O que faz a diferença quando traçamos as prioridades? Em cada jogador encontramos respostas diferentes a estas perguntas. Se uns se motivam pelos resultados, reconhecimento e importância que conseguem ter no seio do grupo, outros motivam-se mais pelo espírito de grupo, pelo sonho, pelo entusiasmo ou diversão; se uns ligam-se mais à carreira, à estratégia, à aprendizagem constante e ao conforto que a profissão lhes pode dar, outros colocam a atenção no propósito, em grandes valores, na equipa, na entrega e na contribuição que podem dar ao grupo. Encontrar a resposta a estas perguntas deveria ser um dos principais objetivos de um treinador, pois esta é uma das situações em que entendemos qual o gatilho que pode elevar a performance de um jogador para níveis de grande superação.

Sempre que um jogador leva uma mensagem para dentro de campo numa camisola interior, há duas coisas que automaticamente estão garantidas: uma performance de excelência e um 'grito' de algo que quer comunicar. Ambas as situações são extremamente úteis: a performance porque vai certamente contribuir para um resultado mais positivo e o 'grito' porque nos dá a resposta às perguntas mais importantes sobre um jogador.

Num trabalho de coaching de Alta Performance, uma das coisas que trabalhamos e potenciamos é o propósito individual de cada jogador, sendo a forma como o fazemos diferente de caso para caso. O exemplo recente de Gelson Martins, e a sua atitude de tirar a camisola no festejo de um golo, é um dos casos em que o propósito do jogador está bem presente. Podemos sempre olhar para esta situação como uma atitude irrefletida ou tirar dela uma grande lição. Eu prefiro sempre ajudar a construir a performance dos jogadores ao invés de arrasar com eles, pois acredito que de alguma forma eles estão no clube para ajudar e, no caso de Gelson, essa ajuda sempre foi crucial. O que significa que de nada vale criticar o jogador, mas sim retirar do seu comportamento informação fundamental sobre aquilo a que ele se liga na hora de entrar dentro de campo. Quem leva uma mensagem para mostrar após a marcação de um golo, só descansa quando vê a bola dentro da baliza - e isso sim, é algo que devemos valorizar. A minha sugestão é perguntar a Gelson qual a próxima mensagem que ele gostava de comunicar e colocar toda a equipa a fazer o mesmo com ele, talvez no final do jogo e depois de uma vitória, apenas para não desafiar as leis do jogo.»
(Susana Torres, mental coach, em Alta Performance) 


Curvo-me perante a inteligência, a sensibilidade, a cultura e a beleza interior e exterior de uma mulher que me concedeu o privilégio de ler um dos mais belos textos sobre futebol que a minha memória alcança.

É profundamente gratificante, depois de descer aos infernos "empurrado" por um "otário" qualquer que por aí anda a conspurcar a réstia de cultura que sobrou para este desafortunado povo, subir ao paraíso pela angelical mão desta grande senhora e reforçar a minha crença de que...

"Não há rapazes maus"!...

Leoninamente,
Até à próxima

7 comentários:

  1. Eu sou sincero e sei que não vou ser bem visto por muita gente mas para mim a direcção fez bem em não multar ou punir o Gelson.

    O treinador já é outra coisa..Eu se fosse JJ colocava de castigo Gelson nesta eliminatória da Liga Europa.
    Serviria para dar o exemplo e ao mesmo tempo tinhamos o Gelson fresco para os jogos do campeonato contra o Chaves,Braga e Rio Ave.

    SL

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    1. Gelson já aprendeu o suficiente e teve o descanso que talvez precisasse não jogando nas Antas, permita o amigo Balakov que lhe dê a minha opinião. Agora contra o Viktoria Plzen, Gelson será um dos nossos maiores trunfos para desmontar o autocarro dos checos e continuará a estar, como sempre esteve, preparadíssimo e capacíssimo para desmontar os três autocarros de que fala, na nossa liga, em três jogos fundamentais para chegarmos às portagens da Champions.

      SL

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    2. Não aprendeu não amigo Àlamo.

      Gelson nesta situação tirou a lição que vale a pena pensar nos amigos primeiro e só depois no clube.
      Pior,sabe que no fim não vai ser recriminado nem punido mas sim compreendido e até enaltecem o lado humano..
      Que exemplo deu para Rafael leão?E para outros?..
      E sabem quem perde no fim?O SCP,mais ninguém..nem ao bolso lhes vão e acho bem porque para mim quem tem que disciplinar é o treinador,a direcção só entra em ultimo caso e já numa situação de rotura entre o treinador e o jogador em questão.

      A Europa é a montra que todos os jogadores gostam de jogar.
      Sinceramente se eu fosse JJ,Gelson não ia jogar nesta eliminatória.
      E sejamos sinceros,se necessitamos assim tanto de 1 jogador que tenhamos que abdicar de valores e principios,então se calhar não merecemos ir longe e nem á final.
      SL

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  2. Acredito que "esta lição"...sirva de exemplo pela vida fora ao nosso Gelson...

    SL

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  3. Amigo Álamo, um excelente post, ainda bem que vai havendo pessoas que pela sua perspicácia e lucidez conseguem visualizar de forma construtiva os recônditos do ser humano, confesso que me tenho sentido cansada de ler tanta volubilidade, sempre errática, visando pessoas, que não o merecem, e tendo como consequência a destruição do seu carácter, assim este texto surge como uma pedrada em todos aqueles que se acham os donos de toda a verdade quando opinam sobre aquilo que desconhecem, os meus parabéns a essa senhora Susana Torres, e tb ao amigo Álamo, pq soube compreender tudo o que está impresso na sua msg....

    SL

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  4. O Gelson já tinha aprendido o ESSENCIAL do Sporting mesmo antes de marcar o golo, tal com MUITO BEM explica a "Mental Coach" Susana Torres. a necessidade de mostrar AQUELA mensagem foi motivação extra para o golo. E, para nós sportinguistas (além do golo ter valido uma vitória a ferros, sem a qual também não servia de muito o jogo de Porto) os valores passados na mensagem (AMIZADE E SOLIDARIEDADE) devem sempre valer tanto como o sucesso desportivo. E, não me falem em aplicação da lei, o bom senso não imperou na decisão do árbitro, naquelas circunstâncias (ver, no jogo anterior, a diferença com Coates).

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  5. Ia responder ao Balakov, mas o anfitrião já o fez traduzindo na integra o meu pensamento.

    SL

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